Se há algo importante que
descobri nessa vida foi: amar minha
vagina.
Nada surpreendente para uma
estudiosa de gênero e feminismo, ser humano responsável com a saúde e bem estar
da mesma, adolescente nos anos 80/90 quando emergia o debate sobre masturbação,
doenças venéreas e o triste fenômeno da AIDS.
Fui educada para casar virgem!
E pode crer, durante
aproximadamente 18 anos só havia conhecido intimamente um único pênis, tempo
muito maior que minha existência anterior. Era preciso mudar essa realidade
limitada e castradora... até que eu me libertei!
Já no século XXI pude apreciar
uma obra marcante em minha vida sob duas formas: a fonte de inspiração (o filme)
e a peça teatral dirigida por Miguel Falabella: OS MONÓLOGOS DA VAGINA.
Considero essa importante parte
de mim em sua atividade plena. Além disso, como professora e pesquisadora nata,
busquei contribuir com o conhecimento, inclusive sendo atendida em hospitais
universitários. Mas após passar por uma situação um tanto intrigante, decidi
resguardar um pouco mais minha vagina.
Confesso que sentia certo
contentamento nas consultas ginecológicas no Hospital Universitário, com
aqueles diferentes jovens médicos e médicas observando e estudando minha vagina,
me perguntavam com quantos homens eu havia tido relações sexuais como se fosse “lista
do beijo”. Até que um belo dia um dos estudantes iniciou o exame com um
espéculo e o trocou umas 2 vezes, até seu professor vir e colocar outro
espéculo... e achei um abre e fecha demasiado, embora minha vagina já começava
a se entediar com tamanha sensação (parecia a última celebridade enfadada); aí
optei por fazer minhas consultas particulares mesmo.
Nas diferentes relações que tive
a preservei e deixei que desfrutasse as mais belas sensações, sem agressões ou
maus tratos, desfrutando uma bela fisiologia do gosto...
Havia encontros regulares com um
determinado pênis e outros alternativos com outros pênis preservados, como
fazem as vaginas autônomas e independentes, como a exemplo a de Simone
DeBeauvoir; Frida Kahlo; Tarsila do Amaral; Madonna – quando uma sequência de sonhos
inquietantes despertou meu estado de alerta.
Havia uma mulher morena, com uma escova
progressiva mal feita e ares psicóticos correndo com meu vibrador na mão. Existe algo mais grotesco hoje em dia que uma
progressiva mal feita? De cara já estava aterrorizada.
Assim na primeira noite de sonhos
eu corria desesperada sem nem dar tanta importância assim para aquele objeto
que me dava sempre prazer garantido, mas que era apenas um objeto e nada mais
além disso.
A mulher corria irada com aquele
olhar esbugalhado que os surtados sabem muito bem revelar, dizia que aquele
vibrador era dela já havia 14 anos, que ela tinha até fotos com ele; que ele
não queria compromisso com ninguém e queria saber como o conhecia, se eu o usava
com frequência. E eu dizia:
-Criatura, o conheço sim, adquiri
numa loja virtual e o cadastro foi até gratuito – o próprio sistema o ajudou a
escolher devidas afinidades e combinações; mas pode ficar com ele se é isso que
você quer. Já usei mesmo, e funciona bem.
Assim, amanheci exausta no dia
seguinte e bastante descontente com aquele sonho. Mas na segunda noite havia
uma continuidade, eu ligava para o vendedor da loja virtual e pedia um
posicionamento da empresa em relação aquela louca obsessiva, e como todo
atendimento de SAC hoje em dia que encaminha para vários setores e não há
nenhum responsável pela solução dos problemas, sugeriu que eu dissesse que já
havia doado o vibrador e que não estava mais com ele!
Acordei com a sensação de achar
aquele atendente nada solidário e egoísta, afinal ele ganhava o seu salário
para não resolver “porra” nenhuma, e tinha me vendido um produto de precedentes
duvidosos. Precisava ir ao PROCOM. Mas na verdade meu corpo já estava
maltratado por uma segunda noite sem descanso, meus pensamentos só ficavam
voltados para a solução daquele imaginário problema, nem me concentrar direito
no trabalho conseguia.
Até que na terceira noite de sono
resolvi tomar um relaxante, um chá quente; mas quando tudo fazia efeito uma
mensagem que entrava no celular foi o dispositivo perfeito para o encerramento
dos pesadelos.
Naquele mundo onírico eu mandei
uma mensagem que seria o principio final daqueles pesadelos. A mensagem dizia:
-Olá moça desconhecida que me
encheu o saco nas madrugadas por causa do PP (abreviação carinhosa para Pênis
Provocador). Transo com ele sim e gozo legal. Não se preocupe, só transo com
preservativo. Não preciso de compromisso e me divirto bastante, ele até já foi
apresentado a alguns amigos. Enquanto ele me fez gozar e me divertiu, valeu a
companhia, agora se ele quiser pular da sua mão e continuar guardadinho no
lugar dele, pode vir...
A mulher enfureceu e tentou
ofensas pessoais, sem nem me conhecer; se dizia de Curitiba. Poxa, logo de
Curitiba onde adoro passear pelo menos uma vez ao ano. Então, mandei outra
mensagem:
-Ah e se você continuar me
importunando tenho amigas policiais que adoram autuar mulher barraqueira.
Assédio sexual, moral e coação também dão medidas protetivas e processos. Se
você quiser fazer de sua vida um inferno é só começar mandar mensagem ou
qualquer coisa do tipo. Com ele, resolva você.
-Porque eu, sou muito bem resolvida!
-Ah e beijinhos no ombro mal
amada!
-Achei seus dados no site de
compras. Que a paz esteja com você. E se você espera um “ménage a trois”, eu
não curto; cada uma na sua vez!
Finalmente acordei com um sorriso
nos lábios e a vagina retesada como quem ganha uma luta. Meu vibrador
continuava no mesmo lugar, mas comecei a olhá-lo com certo descrédito... as
pilhas andam falhando. Ainda não consegui usá-lo depois dos pesadelos. Mas
também minha vagina está tão tranquila e animada que nem pensa nele... afinal o
verão está chegando, tempo de renovar energias e ela é muito, muito amada.