quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

DIÁLOGOS DE MINHA VAGINA



Se há algo importante que descobri nessa vida foi: amar minha vagina.
Nada surpreendente para uma estudiosa de gênero e feminismo, ser humano responsável com a saúde e bem estar da mesma, adolescente nos anos 80/90 quando emergia o debate sobre masturbação, doenças venéreas e o triste fenômeno da AIDS.
Fui educada para casar virgem!
E pode crer, durante aproximadamente 18 anos só havia conhecido intimamente um único pênis, tempo muito maior que minha existência anterior. Era preciso mudar essa realidade limitada e castradora... até que eu me libertei!
Já no século XXI pude apreciar uma obra marcante em minha vida sob duas formas: a fonte de inspiração (o filme) e a peça teatral dirigida por Miguel Falabella: OS MONÓLOGOS DA VAGINA.
Considero essa importante parte de mim em sua atividade plena. Além disso, como professora e pesquisadora nata, busquei contribuir com o conhecimento, inclusive sendo atendida em hospitais universitários. Mas após passar por uma situação um tanto intrigante, decidi resguardar um pouco mais minha vagina.
Confesso que sentia certo contentamento nas consultas ginecológicas no Hospital Universitário, com aqueles diferentes jovens médicos e médicas observando e estudando minha vagina, me perguntavam com quantos homens eu havia tido relações sexuais como se fosse “lista do beijo”. Até que um belo dia um dos estudantes iniciou o exame com um espéculo e o trocou umas 2 vezes, até seu professor vir e colocar outro espéculo... e achei um abre e fecha demasiado, embora minha vagina já começava a se entediar com tamanha sensação (parecia a última celebridade enfadada); aí optei por fazer minhas consultas particulares mesmo.
Nas diferentes relações que tive a preservei e deixei que desfrutasse as mais belas sensações, sem agressões ou maus tratos, desfrutando uma bela fisiologia do gosto...
Havia encontros regulares com um determinado pênis e outros alternativos com outros pênis preservados, como fazem as vaginas autônomas e independentes, como a exemplo a de Simone DeBeauvoir; Frida Kahlo; Tarsila do Amaral; Madonna – quando uma sequência de sonhos inquietantes despertou meu estado de alerta.
Havia uma mulher morena, com uma escova progressiva mal feita e ares psicóticos correndo com meu vibrador na mão.  Existe algo mais grotesco hoje em dia que uma progressiva mal feita? De cara já estava aterrorizada.
Assim na primeira noite de sonhos eu corria desesperada sem nem dar tanta importância assim para aquele objeto que me dava sempre prazer garantido, mas que era apenas um objeto e nada mais além disso.
A mulher corria irada com aquele olhar esbugalhado que os surtados sabem muito bem revelar, dizia que aquele vibrador era dela já havia 14 anos, que ela tinha até fotos com ele; que ele não queria compromisso com ninguém e queria saber como o conhecia, se eu o usava com frequência. E eu dizia:
-Criatura, o conheço sim, adquiri numa loja virtual e o cadastro foi até gratuito – o próprio sistema o ajudou a escolher devidas afinidades e combinações; mas pode ficar com ele se é isso que você quer. Já usei mesmo, e funciona bem.
Assim, amanheci exausta no dia seguinte e bastante descontente com aquele sonho. Mas na segunda noite havia uma continuidade, eu ligava para o vendedor da loja virtual e pedia um posicionamento da empresa em relação aquela louca obsessiva, e como todo atendimento de SAC hoje em dia que encaminha para vários setores e não há nenhum responsável pela solução dos problemas, sugeriu que eu dissesse que já havia doado o vibrador e que não estava mais com ele!
Acordei com a sensação de achar aquele atendente nada solidário e egoísta, afinal ele ganhava o seu salário para não resolver “porra” nenhuma, e tinha me vendido um produto de precedentes duvidosos. Precisava ir ao PROCOM. Mas na verdade meu corpo já estava maltratado por uma segunda noite sem descanso, meus pensamentos só ficavam voltados para a solução daquele imaginário problema, nem me concentrar direito no trabalho conseguia.
Até que na terceira noite de sono resolvi tomar um relaxante, um chá quente; mas quando tudo fazia efeito uma mensagem que entrava no celular foi o dispositivo perfeito para o encerramento dos pesadelos.
Naquele mundo onírico eu mandei uma mensagem que seria o principio final daqueles pesadelos. A mensagem dizia:
-Olá moça desconhecida que me encheu o saco nas madrugadas por causa do PP (abreviação carinhosa para Pênis Provocador). Transo com ele sim e gozo legal. Não se preocupe, só transo com preservativo. Não preciso de compromisso e me divirto bastante, ele até já foi apresentado a alguns amigos. Enquanto ele me fez gozar e me divertiu, valeu a companhia, agora se ele quiser pular da sua mão e continuar guardadinho no lugar dele, pode vir...
A mulher enfureceu e tentou ofensas pessoais, sem nem me conhecer; se dizia de Curitiba. Poxa, logo de Curitiba onde adoro passear pelo menos uma vez ao ano. Então, mandei outra mensagem:
-Ah e se você continuar me importunando tenho amigas policiais que adoram autuar mulher barraqueira. Assédio sexual, moral e coação também dão medidas protetivas e processos. Se você quiser fazer de sua vida um inferno é só começar mandar mensagem ou qualquer coisa do tipo. Com ele, resolva você.
-Porque eu, sou muito bem resolvida!
-Ah e beijinhos no ombro mal amada!
-Achei seus dados no site de compras. Que a paz esteja com você. E se você espera um “ménage a trois”, eu não curto; cada uma na sua vez!
Finalmente acordei com um sorriso nos lábios e a vagina retesada como quem ganha uma luta. Meu vibrador continuava no mesmo lugar, mas comecei a olhá-lo com certo descrédito... as pilhas andam falhando. Ainda não consegui usá-lo depois dos pesadelos. Mas também minha vagina está tão tranquila e animada que nem pensa nele... afinal o verão está chegando, tempo de renovar energias e ela é muito, muito amada.