terça-feira, 22 de julho de 2014

QUANDO MEUS BRAÇOS PRA TI SE ESTENDEM...

Olho retratos retráteis, táteis, tão vívidos, tão tocantes como minhas mãos andarilhas por meus seios desnudos. Dói-me o sentimento. Sinto a solidão de meu corpo. Olho retratos espelhando minhas saudades...

Mas as saudades dos retratos assim se amenizariam... se tu viesses ver-me... assim te esperaria... banhada em baunilha e alecrim... ao final da tarde mansa... lânguida sob a luz das primeiras estrelas... Abriria minha janela e não falaria em economia.

Deixaria que tua pele macia encostasse suavemente em meu pescoço, para sentires meu doce cheiro de alegria, e eu, no teu cheiro de orvalho da manhã me inebriaria...

Ah se tu viesses ver-me eu te falaria à boca pequena, como se contasse um segredo a um colibri; me avizinharia da tua boca roxa de vinho e cada letra minha na tua sairia, mas não as deixaria escapar para te contar das políticas nacionais sem antes morder-te segredos... medos... desenganos...

Respiro e minha barriga de ar se encarrega, solto tudo, sopro um vento, é teu nome que de minha boca sai. Desejos...

Ah se tu viesses ver-me eu te cantaria uma canção sevilhana sob um olhar taciturno de Velázquez. Deixaria que me tocasses de mansinho, e eu me movimentaria de um lado e outro, ritmando só para escutar o eco de teus cadenciados passos...

Não te enganes com minhas aparentes bondades... são sortilégios...


Ah se tu viesses ver-me... deixaria que me rasgasse a roupa, me mordesse a carne e sentisse o peso de minhas mãos... mas jamais te amaria... falta-te as pedras das estradas... falta-te a Gitã... falta-te perceber que minhas asas estão dobradas porque ainda não consegues voar... quando meus braços pra ti se estendem.