Olho retratos retráteis, táteis, tão vívidos, tão tocantes
como minhas mãos andarilhas por meus seios desnudos. Dói-me o sentimento. Sinto
a solidão de meu corpo. Olho retratos espelhando minhas saudades...
Mas as saudades dos retratos assim se amenizariam... se tu
viesses ver-me... assim te esperaria... banhada em baunilha e alecrim... ao
final da tarde mansa... lânguida sob a luz das primeiras estrelas... Abriria
minha janela e não falaria em economia.
Deixaria que tua pele macia encostasse suavemente em meu
pescoço, para sentires meu doce cheiro de alegria, e eu, no teu cheiro de
orvalho da manhã me inebriaria...
Ah se tu viesses ver-me eu te falaria à boca pequena, como
se contasse um segredo a um colibri; me avizinharia da tua boca roxa de vinho e
cada letra minha na tua sairia, mas não as deixaria escapar para te contar das
políticas nacionais sem antes morder-te segredos... medos... desenganos...
Respiro e minha barriga de ar se encarrega, solto tudo,
sopro um vento, é teu nome que de minha boca sai. Desejos...
Ah se tu viesses ver-me eu te cantaria uma canção sevilhana sob
um olhar taciturno de Velázquez. Deixaria que me tocasses de mansinho, e eu me
movimentaria de um lado e outro, ritmando só para escutar o eco de teus
cadenciados passos...
Não te enganes com minhas aparentes bondades... são
sortilégios...
Ah se tu viesses ver-me... deixaria que me rasgasse a roupa,
me mordesse a carne e sentisse o peso de minhas mãos... mas jamais te amaria...
falta-te as pedras das estradas... falta-te a Gitã... falta-te perceber que
minhas asas estão dobradas porque ainda não consegues voar... quando meus
braços pra ti se estendem.
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