sexta-feira, 13 de abril de 2012

CLASSE C: A ECONOMIA DA SOBREVIVÊNCIA

Passam das dez. É noite. Chego em casa, tudo comum.
Corro ao banheiro, contas a pagar, casa a limpar.
Largo coisas em lugares momentâneos, ou seriam coisas momentâneas em lugares largos?
Subo.
Dispo-me as roupas, os acessórios e fico com o luxo.
Meu quarto suspenso no ar... Olho com estranhamento a ducha clamando banho. A descarga desconexa marulha.
Porra!
Arranho minha capa, minha pele donde sai...
Pandora! Peguei emprestada com Joice.
Os males? Mistério... Sonhos... Realidades...
Minha aula de cozinha lotou!! Chegaram a negar inscrições!!
Mulher chata tentando melar a noite.
E o público?
Me conquistou, fascinou; curtiu. Quero mais! Quero Bis! Quero cozinhar pra esse povo!
Mulher chata tentando dispersar o público.
E as assistentes: interagem, assistem, cozinham junto, emulsionam, apóiam, encorajam. Agradecem, fazem votos de Luz e Sucessos.
Eu... Sonho nessa realidade, abstraio. Descubro amigos, gente que vai pra torcer, pra aprender, se divertir.
Obrigada Marujo, Obrigada Coruja, Obrigada Joice, Obrigada a tod@s. Gracías, Thank you, Merci.
Observo que sem os males livres de Pandora, não há como resguardar a esperança.
Sou professora e cozinheira.
As duas coisas. Coisas duas.
Sei fazer, mas aprendo melhor a cada dia. Amig@s me acham mais “Chef” que eu mesma.
Choro emocionada. Sou sensível.
O barulho da descarga não pára.
Porra.
Sou meio mal... Criada.
Que minha avó não ouça, nem leia o que escrevo... Seja em que plano estiver.
Sou assim: alguém buscando fazer o bem esteja onde estiver ou com o instrumento que tiver (com exceção de certo canivete francês), seja a fala, o estudo, a informação, a faca, o alimento e o fogão. Mas, às vezes, libero os males no mundo. Não nasci pra pousar de boazinha. Sou humana...
Ainda não mandei as lembranças para o amigo Gleison e sua linda família. Não paguei o dízimo da igreja e deletei umas pessoas de meus contatos.
Esther tem 18.
Rememoro fatos. Dia básico: suprir necessidades básicas da escola; irritar-se com a orientação não atendida; compartilhar a janta do dia anterior com o almoço da galera. Dialogar com uma colega em conflito existencial. Correr para levar Gabriel em Pronto Socorro. Tensão. Discutir Relação com Gabriel. Amar Gabriel irritante. Medicar Gabriel e deixá-lo em casa.
Tomo café com massa frita... Tomo ginseng. Tem algo cheirando naftalina.
Dou aula de cozinha. Me irrito com a pessoa que me recepciona. Tento, mas não consigo disfarçar.
Fico feliz, feliz, feliz...
Porra, a descarga na pára com o barulho.
Estou “Classe C”: tenho curso superior, dois empregos, retomo meu capital, pago impostos...
Mas, será possível transpor essa órbita para além da Via Láctea?
Cerveja gelada. Um brinde às delícias.
O atendente da conveniência me pergunta mecanicamente: - Mais alguma coisa?
- Sim, por favor: Um marido rico...
Ele sorri e completa: - Que morra logo!
- Nãããão. Quero um assim tipo Paulo Zulu, Jesus Luz... com vitalidade pra gente curtir, se divertir.
Cerveja gelada, marido rico, sexo excelente, vida próspera.
Li o Segredo, vi o filme. Conheço a Cabala. Tudo é possível.
Sou mulher; latina americana, descendente de indígenas. Estou “Classe c” e tenho uma utopia necessária à vida...
Aguenta essa Tche. 
Não se revire na cova Marx.
Descobri o parafuso que regula a descarga, apertei.