segunda-feira, 3 de novembro de 2014

NERO DI SEPPIA

Para Valdir:
NERO DI SEPPIA

Se eu fosse uma tinta me derramaria sobre teu corpo e tingiria teu pensamento, quase tão monocromático como um acorde de nero di seppia.  Como as estações de Vivaldi, no verão te traria  tons cinza claro desenhando arabescos etruscos em tuas pernas, subindo para teu peito como uma gramínea alimentando-se de todo o sal do mar instalado na areia corrente.

Sopraria a ventos errantes, dunas deliciosas em teus cabelos negros como a noite cintilada de estrelas.

Não consegui resistir a desilusão que abateu-me, nem pude reivindicar que desistisse de teu sonho. Ah política... Que fulgura o meu Brasil não o fará uma nova América. Quero mudar, quero mudança... no monograma desenhando-se não se há de trocar uma ditadura por outra.

Ainda sinto teu cheiro misto de folhas de limão quebradas e aniz estrelado com mel, adentrando em minhas narinas, soqueando de golpe certeiro o meu pensamento. Como é bom pensar em sorrisos, murmúrios e gemidos tão noturnos como as cigarras da primavera.

Tenho a mim, ao meu pensar. Tenho as minhas alegrias, desilusões, e não saberes. Não há ninguém igual a você, a mim ou a João. Nem mesmo os clones de Huxley teriam tal submissão.

Te agradam as indomadas, as faceiras e fazedeiras de vontades... tão antagônico como qualquer temor... Fugiremos para Cidade do México, ou Londres, ou Irlanda, ou Madri se preciso for... Estarei no IRA, no ETA, no front. Mas não carregarei machados, nem foices, nem rancores. Carregarei somente a obscuridão de teu olhar por tamanha contrariedade.

Consigo vistos em Cuba.

Sorrimos? Fugimos?? Há um 32 com cabo de madrepérola em algum lugar de meu passado... sei usar se preciso for... sei bater, soquear, puxar cabelo e cuspir (eu acho). Te protegerei sob a segurança de teu abraço.


Eu brinco, eu jogo, e sigo... mais vivida, mais loira e protegida pela tinta em que ei de deixar de usar.  Sou arte em criação. Não sou uma torrente de fúria de Pollock, nem uma modernidade nostálgica de Malfatti.  

Quero que o ano acabe, quero que a política mude, quero amar simplesmente – se isso é possível... Quero espalhar todas as cores de flores de meu vestido de novos anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário