quarta-feira, 12 de novembro de 2014

MINHA MULHER TEM CELULITE



Acordei pela manhã e apalpei...
Aquela sensação macia e gostosa... pele, pelo (arrepiadinho – deslizei a mão meio de leve)... e...  massa...
Segurei aquela carne volumosa e senti as ondinhas...
gostosa...
 isso é de verdade... 
...qualquer coisa a gente joga pro lado...
Minha mulher tem celulite... pouca, média... não quero ver muito...mas tem, minha mulher tem celulite...
Falamos pra ela do botox: sua prima aos 40; seu dentista de 55 eu de 48... e ela? ( Acha que consegue chegar aos 45... sem) ... Nem que fosse preciso, maldita cultura, maldito pensamento, maldita economia e o PT ... Ala Shermann; Malu Mulher; Marta Suplicy; TV Mulher...
Criatura bitolada na mídia. Graças a Deus! Não me dá grande despesa!
Ela não está lá... O trabalho que me dá é outro...
Assim ela pensa na saúde, na alimentação, na fofoca, na novela... e por mais que ela ande, por mais que ela trabalhe na sua profissão, ela não deixa de ter celulite.
E eu?
BENDITO SEJA, sou homem. Macho alfa, capitalista... dou livros pra ela ler:  de receita ( os que eu quero que ela faça, dou carícias pra ela se excitar - as que eu quero fantasiar); assim sigo, com ela realizando meus desejos...
E ela? Por ela mesma o que faria? Me romantizaria e criaria uma ilusão?  Daria bem gostoso  pra eu que a sabe comer? (VULGAR.... JULGAR... BRINCAR). Será?
Não... ela é careta, evangélica... e... tem celulite.

 Oba!

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

NERO DI SEPPIA

Para Valdir:
NERO DI SEPPIA

Se eu fosse uma tinta me derramaria sobre teu corpo e tingiria teu pensamento, quase tão monocromático como um acorde de nero di seppia.  Como as estações de Vivaldi, no verão te traria  tons cinza claro desenhando arabescos etruscos em tuas pernas, subindo para teu peito como uma gramínea alimentando-se de todo o sal do mar instalado na areia corrente.

Sopraria a ventos errantes, dunas deliciosas em teus cabelos negros como a noite cintilada de estrelas.

Não consegui resistir a desilusão que abateu-me, nem pude reivindicar que desistisse de teu sonho. Ah política... Que fulgura o meu Brasil não o fará uma nova América. Quero mudar, quero mudança... no monograma desenhando-se não se há de trocar uma ditadura por outra.

Ainda sinto teu cheiro misto de folhas de limão quebradas e aniz estrelado com mel, adentrando em minhas narinas, soqueando de golpe certeiro o meu pensamento. Como é bom pensar em sorrisos, murmúrios e gemidos tão noturnos como as cigarras da primavera.

Tenho a mim, ao meu pensar. Tenho as minhas alegrias, desilusões, e não saberes. Não há ninguém igual a você, a mim ou a João. Nem mesmo os clones de Huxley teriam tal submissão.

Te agradam as indomadas, as faceiras e fazedeiras de vontades... tão antagônico como qualquer temor... Fugiremos para Cidade do México, ou Londres, ou Irlanda, ou Madri se preciso for... Estarei no IRA, no ETA, no front. Mas não carregarei machados, nem foices, nem rancores. Carregarei somente a obscuridão de teu olhar por tamanha contrariedade.

Consigo vistos em Cuba.

Sorrimos? Fugimos?? Há um 32 com cabo de madrepérola em algum lugar de meu passado... sei usar se preciso for... sei bater, soquear, puxar cabelo e cuspir (eu acho). Te protegerei sob a segurança de teu abraço.


Eu brinco, eu jogo, e sigo... mais vivida, mais loira e protegida pela tinta em que ei de deixar de usar.  Sou arte em criação. Não sou uma torrente de fúria de Pollock, nem uma modernidade nostálgica de Malfatti.  

Quero que o ano acabe, quero que a política mude, quero amar simplesmente – se isso é possível... Quero espalhar todas as cores de flores de meu vestido de novos anos.