sexta-feira, 1 de abril de 2011

PRIMEIRO DE ABRIL: SEM MENTIRA, NEM SEGREDOS – TALVEZ MISTÉRIO

Hoje acordei angustiada e das janelas do quarto só contemplava um mundo estranho. Liz Taylor se foi e não vou mais encontrar seu reinado cor violeta. Trabalho num paraíso, maquete do Jurassic Park. Não existe educação de contraturno, os pais precisam trabalhar, o ECA reclama o abandono, não há com quem as crianças ficar. Sinto pelos meninos marginais e o Chapolin Colorado não defende ninguém. Sou uma alienígena e não consigo contato imediato com os meus pares. Onde está Luke Skywalker e a “Força” para estar comigo?
O Alencar descansou; passou a polêmica e a contradição e os segredos do fiar, se fiaram nos entrelaces escusos do mensalão. O povo esquece e eu, um dia esquecerei. Uma legião urbana e os reconheço... não encontro minhas asas, não consigo voar... A dúvida cruel do tornar-se: chegou a hora da morte para a renovação da vida, está difícil encaminhar-se ao casulo; então devo curtir os chocolates na Páscoa?
Querem instalar a usina em Pernambuco, Célia alerta da ameaça e dizem para eu parar de reclamar das hipérboles. O jogo do contente já não me é mais familiar. Há tempos que liberei Pollyanna do solário e cortei os longos cabelos ruivos de María de Los Ángeles de García Marquez. O amor é um demônio.
Ainda me encanto com seu sorriso e admiro seu talento. A cozinha. Os detalhes. Meu anel numa bancada fria que saiu do esquecimento. Pode me iludir no papo de ferro de passar... sou feminista e não faço muita coisa pra te contrariar. Quero fugir para a praia deserta e fazer amor sem telepatia, sentindo as borbulhas de uma Clicquot gelada, mascando folhas de hortelã.
O coração ainda bate, o vento sopra, o dia avança e não encontro meus sapatos cor carmim. Levei para arrumar minhas botas espanholas, mas as castanholas não tocam aqui... Quero sentir o enternecimento do tablado, a vida pulsante do flamenco e o sofrimento dos cânticos do amor longínquo.
Quero banhar-me nua de sol e nadar até dar ao pensamento um pim estalado num mergulho surdo. O tsunami dos traumas e do cotidiano insiste em me afogar por completo. Estou cansada, mas resisto. Preciso flutuar em bolhas de sabão cheirando a cigarro e café numa esquina portenha qualquer. Quero finalmente dançar um tango e me perder de paixão. Preciso arrumar as gavetas de memórias, os livros, as receitas e a furadeira que o avô me deu. Preciso comprar uma cama nova pra minha filha, a Playboy de meu filho e uma tripla dose de morfina. Não quero sentir mais dor.
Preciso do descanso dos justos, do salário dos excelentes e da mente que cultiva “O Segredo”. Quero o acalento da mediocridade, a ignorância dos pobres e o poder dos ricos. Nada, nada tenho; nada me espera; o que há no porvir? Quero ser a garota de um outdoor de uma balada universitária, mas os anos passaram e esqueceram de me avisar.
Quero uma instituição para os meninos, assistência para as mães e alegria na escola. Quero cozinhar e que minha comida seja comemorada. Quero acreditar na criatividade e no aborto da usina em Pernambuco. Quero uma política mais moral e eticamente sustentável. Preciso dormir e sonhar para saber onde está a estação da esperança; talvez lá eu seja abduzida por um terráqueo ou encontre o caminho de casa antes de 2012.

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